Dueto CXXV
Em uma imersão no azul o Anu faz graça de graça aos olhos nus.
Nudez cheia de encanto que, por enquanto, vale mais que qualquer moda.
Em algum lugar do país, todos os anos, o Anu come seu angu com anis.
Separa o caroço, sem alvoroço e guarda do almoço para um descansado jantar.
Está na roda essa ave, rondando os engenhos no entorno das pequenas cidades e todo o seu corriqueiro.
Gira com ela o passeio dos olhos atentos, descobridores de pequenos desvãos onde acomodar a curiosidade.
Anu de nós poéticos para todos nós; Anu preto e Anu branco, de cantos melódicos que atraem curiosos patéticos ten-tando pegá-los. E voam girando...
Imersão no azul: indo buscar o que já tem na alma porém na alma não voa assim. Ou voa, sim, mas não com este fim.
Nas anuências do Anu entram sua breve vida, sua esta-da simples de labuta ingênua e ímpar: come – dorme – acorda – voa – canta e encanta.
O Anu anuncia em silêncio: a nuvem diz “vem, Anu” e ele vai, a terra diz “fica, Anu” e ele fica.
É um ser metódico, mas pode deixar de ser; é um ser próspero, e sempre será. Há a derradeira biografia alegre nos seus voos e pousos simplórios. Está lá e é só ver.
Dentro do ciclo, o círculo. Fechado é o olho que não abre. Aberto, o olho vê mais que um circo no ciclo, no círculo.
“Boca fechada não entra mosca”, mas olhos fechados não veem a pedra. A pedrada acabou com a festa, enevoou o céu, silenciou a canção e cerrou as asas.
Uma inversão no azul – o Anu fazia graça de graça aos olhos nus. Não faz mais.
Rogério Camargo e André Anlub
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