Mulher (compilação)
Só o amor constrói; às vezes imponentes casebres de madeira;
Às vezes impotentes castelos de areia.
Ele: é bem verdade, o amor o fez de servo, à mercê do seu regalo,
Diluiu-se em seu cerne, atravessou o fino gargalo;
Qualquer antes desafeto, agora é reto, é sombra, é estalo.
Ela: É extremamente elegante – por dentro e por fora;
Abraça a aurora, flerta com o ocaso, e, por acaso, faz amor com a noite.
Seu sorrir é um florir; seu chorar é um chicote que lhe traz sorte;
Brinca com a morte, mas trata com seriedade a miséria afora.
Pensa em mergulhar de cabeça na paixão verdadeira;
Mas antes checará a profundidade e a temperatura da água,
Colocará sua touca, seu tapa ouvidos e afogará suas mágoas;
Irá ensaiar uns gemidos; irá organizar os argumentos;
Então pensará três ou quatro vezes e, quase sempre, cairá fora.
Ele: Já rodou pelos vis bares e espeluncas loucas da vida;
Em puteiros faceiros falidos com mulheres musas de esquina.
Já se viu na latrina latente e na obscuridade incurável do ser;
E seguindo cegando nas vozes o que na pena precisaria fazer.
Ela: salivas não são gastas à toa, expondo as qualidades extremas
Da força da inteligência, o poder do ventre e da cria
Ecoando ao vento e ao sempre.
A voz que nunca é pendente, nesse momento presente,
Agarra a unhas e dentes, o direito de expor ao planeta,
O que das mulheres pertence.
André Anlub
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