Como nasce a inspiração (Noite de 13 de maio de 2015)
- por André Anlub
Os mestres vieram prestar suas condolências; morreu à tarde, em um final de tarde majestoso, o sol fantástico, que esquentou muito bem o meu dia. Morreu mergulhado em um alaranjado dégradé com um vermelho vivo com tons de amarelo e abóbora, e com direito a uma revoada de periquitos nervosos e gritantes... Simplesmente algo estonteante. Maré mansa; é assim que estou. Ouvindo um som antigo, Pink Floyd e o álbum “Animals”, um dos primeiros LPs deles que tive. Deixo-me levar nessa maré da calmaria e serenidade. A inspiração pelas tintas e desenhos anda me cutucando; hoje tirei um tempo para fazer uns desenhos para um trabalho em um livro, no qual farei uns traços para ficarem abaixo do texto, e acabei rabiscando horas e horas. Acho que é assim que funciona com o Deus inspiração; ele levanta de seu trono, coça os testículos, pega seu cajado de ouro branco, que tem uma espada em aço raro, embutida, camuflada, e anda com aquela pança um pouco grande e seus dois metros e meio de altura, com uma roupa branca, com uma capa enorme que corre pelo chão feito um rio de leite; tem uma grande barba e cabelo ruivos, as mãos cheias de anéis com diversos símbolos de guerra e de paz; anda descalço com duas pulseiras em cada tornozelo, cada qual carregando pingentes e dentes de saber e outros animais; ele anda calmamente, com o olhar plácido que sai de seus olhos hipnotizantes – um escuro como o breu mais profundo e o outro metade laranja claro e outra metade verde esmeralda – e ele segue resmungando baixo até a sala com as portas grande de madeira talhada e que ficam sempre abertas. Antes passa na cozinha e pega uma coxa de avestruz, enorme e suculenta, pega um cálice de vinho e continua sua caminhada, passa pela porta até chegar a um imenso salão, com telas desde bem pequenas até as gigantes, com mais de trinta metros; há tintas, um teto feito a Capela Cistina, também pintado por Michelangelo; há o chão colorido, cheio de penas de asas de anjos e restos de aquarelas e tintas ressecadas, alguns borrões e pingos ainda em fase secante; há marcas de pés e pagadas para todos os lados, rastros de cobras, pincéis de todos os tipos e tamanhos; ao final da sala encontra-se uma enorme janela e uma grande luneta, onde Anjos observam os funestos homens mundanos e suas pressas, de lá para cá. E de lá de cima escolhe um e outra ou outros, prepara sua flecha invisível, em formato de pena, de mira impecável, e de modo inesperado, ou nem tanto, atira e com certeza acerta seu alvo pelas costas... Assim o faz nascer e acordar à inspiração.
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