Meu cavalo nesse momento é livre, porém, ainda com alguns fantasmas. Também há as estradas íngremes que estendem um tapete vermelho para o nada. Agora, as tulipas estavam inteiras, não mais pisadas pelas patas. Brilhantes tulipas, com cores vivas e força para enfrentar a tempestade. O amanhã próximo de letras e tintas, a sina que mudaria o caminhar. Nas mãos, preparados para tocar a alma... Os livros de Emily Dickinson e Sylvia Plath. E as tulipas se tornaram negras ao conhecerem sua história e sua dor; regadas e afogadas pelas flores coloridas que também afogaram junto seu rancor.
E meu cavalo livre...
Hoje tenho novo cavalo. Ele está perto, mas não temos contato. Ele me inspira, traz força e medo - me respeita e impõe respeito. O coração se abre, vejo meu próprio inventário; martírio empoeirado de um achaque guardado e o amor incrustado de um todo imaginário. Hoje a vida é um constante cenário, como o mar que me conhece até mais do que eu mesmo. A moradia na emoção é o botão de liga/desliga da alma incendiária. Pago a diária desse hotel com a locação do meu bordel, com o papel, meus rabiscos e a loucura ponderada.
O cavalos, as tulipas e uma vida
(André Anlub - 7/6/13) - continuação de “Se todas as tulipas fossem negras”
Meu cavalo relinchou por comida, quer algo esquecido e sem fim. Quer banquete farto e antigo, quer minhas loucas iguarias pois já está farto de capim. Meu cavalo veio à minha porta, nessa torta manhã de domingo. Ouvi com delicadeza sua clemência e chorei feito menino. Mais uma vez só vejo as tulipas negras e o verão mergulhado no inverno. O inferno com suas portas abertas badalou os sinos e colocou o capacho de “bem-vindo”. Mas, minha gente amiga... beijo a vida vadia. Deem-me as mãos, me deem guarida, não quero ser julgado, é covardia. Como réu confesso, meu cavalo se vai, some ao longe, pelo canto da estrada. Sua estada é sempre trágica e, como mágica, ressuscita as tulipas.
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