Na casualidade dos caminhos tortos
Parece sinóptico tal gesto simples,
Esse teu, que brilha num todo.
Precata, de jeito torto,
Serem delicadas quaisquer escolhas.
Aberto o enorme fosso,
Que aos brados chama aflito.
Equidistante é carne e osso,
Pequena fenda que flerta,
Num zunido.
Vejo estática tua íris,
Por compreenderes tamanha epístola.
Voas feito águia, tão majestosa,
Tal qual a vida.
Há brilho demais no inconformismo,
Sufoca e cega. Há equilíbrio e imagem,
E na miragem não há cegueira.
E qual atitude seria mais certa,
Senão entregar-te ao próprio destino?
Vai-te logo, fizeste o prólogo,
Sigo-te, em linha reta, feito menino.
(A sedução existe em várias formas e a diplomática será sempre a mais fascinante.)
Um ser imbatível
Avise-me quando tiver um tempo,
Caso eu não esteja, por favor, deixe recado.
Passo por maus bocados sem a menor notícia sua,
Vivo um grande tormento olhando os velhos retratos.
Para o meu conforto tenho seus poemas tatuados,
Ás vezes os leio a esmo para desmanchar possível mácula.
Vejo uma fábula que outrora romance barato,
Erguer-se das cinzas, renascer do cálido aborto.
Agora vago tão-só, sem rumo, em nuas noites sem lua,
Em garrafas de gargalo torto, vivo com a vida nas mãos.
Cambaleando na esperança do zero multiplicado por doze.
Na dose dos passos brandos, gasto meu quinhão.
É, sou impostor vivente, fantasioso e sensível,
Mas é vantajoso passar o inverno nessa novela.
Pinto com aquarela a imagem de um deus no céu,
Escrevo no papel minha quimera de um ser imbatível.
(Não há nada mais indomável do que uma mulher sem vaidade.)
Andre Anlub
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