O livro que fez meu cavalo livre
(Parte I, II, III)
A priori... tudo está a contento, e sobrevivi!
Lembro-me da vastidão do picadeiro
O cavalo da loucura em galope louco.
Nunca se deixa de fazer pouco
Quando tudo se tem... é você em primeiro!
Alucinações, parábolas, cogumelos
Nos desenhos moravam duendes;
Para as crianças, eram casas...
Salgados caramelos.
Cavalguei sobre o campo de tulipas
Amassadas pelas pegadas do cavalo.
E na queimada da mata...
Pelo ralo foram-se alguns anos
Pelo corpo farejei meus desenganos.
Chorei ao deparar-me com o tempo perdido
E no dito e não dito que ignorei.
Com a felicidade tinha perdido o compromisso
E no chumaço do chá de sumiço,
Hoje me achei.
Enfim, estacionado o cavalo.
Dei banho, água e feno
Abri o cercado do terreno
E o deixei livre ao regalo.
Se todas as tulipas fossem negras
Meu cavalo nesse momento é livre
Porém, ainda com alguns fantasmas.
Também há as estradas íngremes
Que estendem um tapete vermelho para o nada.
Agora, as tulipas estavam inteiras,
Não mais pisadas pelas patas.
Brilhantes tulipas, com cores vivas
E força para enfrentar a tempestade.
O amanhã próximo de letras e tintas
A sina que mudaria o caminhar.
Nas mãos, preparados para tocar a alma...
Os livros de Emily Dickinson e Sylvia Plath.
E as tulipas se tornaram negras
Ao conhecerem sua história e sua dor.
Regadas e afogadas pelas flores coloridas
Que também afogaram junto seu rancor.
E meu cavalo livre...
Hoje tenho novo cavalo
Ele está perto, mas não temos contato.
Ele me inspira, traz força e medo
Me respeita e impõe respeito.
O coração se abre, vejo meu próprio inventário.
Martírio empoeirado de um achaque guardado
E o amor incrustado de um todo imaginário.
Hoje a vida é um constante cenário
Como o mar que me conhece
Até mais do que eu mesmo.
A moradia na emoção
É o botão de liga/desliga da alma incendiária.
Pago a diária desse hotel
Com a locação do meu bordel
Com o papel, meus rabiscos
E a loucura ponderada.
Os cavalos, as tulipas e uma vida
Meu cavalo relinchou por comida
Quer algo esquecido e sem fim.
Quer banquete farto e antigo
Quer minhas loucas iguarias
Pois já está farto de capim.
Meu cavalo veio à minha porta
Nessa torta manhã de domingo.
Ouvi com delicadeza sua clemência
E chorei feito menino.
Mais uma vez só vejo as tulipas negras
E o verão mergulhado no inverno.
O inferno com suas portas abertas
Badalou os sinos
E colocou o capacho de “bem-vindo”.
Mas, minha gente amiga...
Beijo a vida vadia.
Deem-me as mãos, me deem guarida
Não quero ser julgado, é covardia.
Como réu confesso, meu cavalo se vai
Some ao longe, pelo canto da estrada.
Sua estada é sempre trágica
E, como mágica, ressuscita as tulipas.
Mar de doutrina sem fim
Houve aquele longo eco daquele verso forte desafiador;
Pegou carona na onda suntuosa de todo mar agitado:
- fui peixe insano com dentes grandes e olhar de bardo;
Fui garoto, fui garoupa, fui a roupa do rei de Roma...
E vou-me novamente mesmo agora não sendo.
Construo meus barcos no sumo da imaginação:
(minhas naves, pés e rolimãs),
E como imãs com polos iguais, passo batido...
Por ilhas virgens – praias nobres – boa brisa;
Quero ancorar nas ilhas Gregas, praias dos nudistas e ventos de ação.
Lá vem novamente as velhas orações dos poetas,
A tinta azul no papel árduo
E vozes roucas das bocas largas,
Mas prolixas: mês de maio, mais profetas.
E houve e não há, o que foi não se repete;
Indiferente das rimas de amor – vem outro repente...
O mar calmo oferece amparo:
- sou Netuno e esqueci o tridente,
Trouxe um riso com trinta e dois dentes;
Sou mistério que mora no quadrado de toda janela,
O beijo dele, dela, da alma ardente que faz o mar raro.
André Anlub®
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