Dueto da tarde (LXII)
Dia cheio, manhã nublada com cheiro de chuva e sem galo cantando; o moleque já solta versos pelo pomar.
Alguns deles já são frutos colhidos, outros são sementes jogadas; alguns deles falam sobre amores eternos, outros são menos utópicos.
O top dos tops é a inspiração, a respiração da alma, a calma perturbada pela eletricidade, a cidade inteira em sua casa.
É menino de imaginação fértil, pomar fértil, e não precisa de mais nada; para ele a eletricidade até existe, mas basta ser desligada.
Temores, tremores, tambores, estertores, tudo cessa porque ele quer espaço, e voa ao espaço no compasso longo e largo que será ligado aos futuros amores.
Menino dançante e dançável no ritmo de seus versos inacabados, de sua mensagem procurando destinatário ao acaso.
Tarde cheia, tarde de sol com cheiro de música; a festa anunciada, a mesa farta, e os versos agora soltos pela mata.
O moleque estica a mão em seu pomar de versos, colhe alguma coisa que é mais do que alguma coisa, aproxima dos olhos bem abertos e encontra a “noite”; foi plantada para dar frutos nos dias festivos, mas não estava fazendo muita falta, pois o fim de tarde já despontava direto para o dia.
Era de manhã, era de tarde, era de noite, era de tudo, porque de tudo sempre é no coração que transborda as coisas do coração e há nele o que há nos meninos que vivem seus versos.
Rogério Camargo e André Anlub
(11/2/15)
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