Dueto da tarde (LXIII)
Os bolsos vazios de mágoas talvez esperem uma justificativa para a felicidade.
O sonho enterrado e o fato de gostar de nadar nas tempestades em copos d’água mostram e demonstram aos monstros a amostra que de grátis não tem nada.
E segue o fluxo do sangue – ralo abaixo; e nega o impulso de ter pulso – ralo abaixo.
Os bolsos vazios de mágoas procuram uma saudade que já se desmanchou como a nuvem que não choveu, e não molha não rega (como um filho que não nasceu ou uma grande lagoa sem peixe) apenas está ali, alimentando a falsa e árdua esperança.
Um passo trôpego na calçada do entendimento? Sonha. Sonha e vai junto com o tombo, essa indefinição é alimento, é alento, é aflição que beira uma obsessão; no fundo (e nem tão fundo assim) há gosto, há prazer criando uma espécie de desenvoltura de viver nesse sofrer.
Os bolsos vazios de mágoas ou os bolsos cheios de mágoas?
Já nem sabe o que cabe em seus bolsos, pois nada fica no ar sem ser tragado pela sua consciência; ele sabe, todos sabem – ele finge indiferença, todos fingem indiferença, mas está escrito em sua aura: há espaço na mente para muito mais.
Até para as justificativas de felicidade, ainda que tolas, superficiais e desnecessárias.
Ele não precisa chegar ao final para perceber que não há o que guardar, é só desculpa, pois a maior incoerência que possa existir é falar em “bolsos” quando sua vida está sempre desnuda.
Rogério Camargo e André Anlub
(12/2/15)
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