Dueto da tarde (LXIX)
Acordei hoje com dor de cabeça. Não sei onde minha cabeça andou durante o sono;
Talvez tenha voado, voltado novamente no tempo, passeado pela Gaia de mãos dadas com Alice.
Não acordei por saudades do lar. Acordei porque a cabeça não deixou mais dormir.
Quase caí da cama, seria fatal já que durmo no alto de uma Sequoia gigante; e para ser deselegante vou confessar e completar que nunca arrumo minha cama.
Nem desamasso os lençóis. Nem apago a lâmpada de cabeceira. O travesseiro é o mesmo há anos. Minha Sequoia me entende.
Houve um tempo que morei no Mauna Loa, mas me espantei com o calor, senti falta de uma garoa; já vivi no Everest, mas o frio nada breve petrificava meu voo... agora estou muito bem onde estou.
Com a cabeça estourando, mas estou muito bem. Com o sono atrasado, mas estou muito bem. Com a Sequoia balançando e o Everest derretendo, mas estou muito bem.
Só que outro dia surgiu o homem e sua serra, senti um frio na nuca e me deixou em paranoia... acertei-o com uma pedra... de açúcar.
Não era eu o homem? Não era eu um homem sonhando que um homem serrava sua cama. Não era eu o homem acordando com a cabeça doendo porque sonhou com um homem serrando sua cama?
Que loucura: fui homem, fui árvore, fui Alice, vivi em Gaia e em outros lugares, e libertando-me de quaisquer crendices ou pensamentos vulgares... acho que já fui tudo, menos eu.
E ainda quero uma cabeça que não doa...
Rogerio Camargo e André Anlub
(18/2/15)
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