"O pai pediu-me que assinasse o livrinho antes da sessão de lançamento porque o menino, o Manuel, tinha que se deitar cedo. Ajoelhei-me junto ao Manuel e coloquei-lhe então uma questão:
- Este livro é sobre o medo do escuro. Será que tu tens medo?
Pela primeira vez ele me olhou nos olhos. Demorou a reagir e respondeu com uma pergunta:
- E tu tens medo do escuro?
Disse-lhe que sim. Ele gostou da sinceridade, deu meia volta e quando já se afastava conduzido pela mão do pai, ele parou e disse-me à distância:
- Não tenhas medo. O escuro apenas é feito das coisas que nele colocamos.
Disse aquilo para me reconfortar. Mas ele apenas recitava uma frase que eu tinha escrito no livro. O facto de um menino ter citado uma frase minha como se fosse algo da sua autoria foi talvez o maior dos prémios literários que tive. Nunca mais esquecerei esse momento"
- Mia Couto
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