Posted by Josernany Oliveira on Terça, 7 de julho de 2015
Dueto da tarde (CXCVII)
Na folha branca cai o suor profundo; a vaidade ascende e nada compreende desse céu limpo, calado e desnudo.
Fossem perguntar-lhe, e diria que não gosta. Mas ninguém vai perguntar-lhe.
Com poder de poder calar-se, ele então se cala. O suor deságua e agora se junta com suas quentes lágrimas.
Motivo: qualquer um. Ou nenhum. Acha ótimo chorar por motivo nenhum. Limpa-se, como um céu depois da chuva.
Na folha brotam suas lembranças e heranças de afetos de apertos de amigos de abrigos de princípios, meios e... novamente a folha branca
Que estanca o que arranca do coração com uma carranca e não se manca, franca e hostilmente.
No cabeçalho a maternidade escrita em letras cheias, gordas, delineadas e desenhadas; no rodapé o pé sujo de talco, de areia, de barro – calçado e descalço –, pé com histórias.
O mundo pela frente. A vida pela frente. E nem a fantasia ainda do mundo e da vida pela frente.
Motivo: falta de sonhos. Ou excesso. Acha ótimo estacionar em devaneios ou na inércia. O céu da folha nublado com tons de vermelho do nariz que sangra.
O texto que ela recebe é complexo. O nexo do texto complexo é um reflexo que não harmoniza côncavo e convexo.
A sua vida no corpo em anexo sai de tal bolha e avisa que visa retornar e entrar pelas suas frestas: tomará posse aos poucos e redesenhará suas folhas.
Amanhã ou depois, nada lembrará. Mesmo agora nada lembra, e está tudo ali: o sentido, a falta de sentido e o sinto-muito de quem não tem nada pra dizer.
A folha escrita, desenhada e manchada se fecha, se dobra e desdobra, se vinca e se vinga partindo-se em duas e transformando-se em um barquinho e um aviãozinho de papel... E vão aos ventos e aos mares.
Viagem infantil. Mas é assim que se começa toda e qualquer adulta. Ou se continua em toda e qualquer viagem adulta.
Rogério Camargo e André Anlub
(7/7/15)
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