Dois eufemismos bem
brasileiros: “Me empresta?” e “Depois falo contigo”. Quando alguém diz me
empresta? via de regra está querendo dizer me dá. Como me dá é uma forma pouco
elegante, invasiva, quase agressiva e como também ela coloca o pedinte suma
situação muito mais fragilizada do que o me empresta, o me empresta funciona
como me dá. Legiões de pessoas sentem-se indignadas: Me pediu emprestado e
nunca mais devolveu! Ou: Fui pedir de volta e ficou uma fera comigo, onde é que
já se viu? Já se viu aqui mesmo, e a toda hora.
Assim o depois falo
contigo. Está no lugar do não quero te atender, do isso não me interessa, do não
tenho tempo pra isso, do não me aborrece. Fórmulas, evidente, que não dão face
para ninguém. E este é o xis da questão: dar face aos envolvidos, para que o grau
dos ressentimentos não ultrapassem determinadas medidas, dentro das quais todo
mundo pode continuar pedindo emprestado sem devolver ou não querendo conversa sem
que os atingidos por isso tomem o rumo norte e não voltem mais.
A experiência foi
fazendo com que eu aprendesse. Quando me pedem “emprestado”, meu cálculo
imediato é o do prejuízo caso a coisa (ou o valor) não volte mais. Se voltar,
tudo bem, é lucro. Mas se ocorrer o “normal”, então eu já sabia que estava
perdido mesmo e preparado para isso. Daí que não sou um grande emprestador,
evidente. Já quando me dizem que depois falam comigo, dificilmente – a não ser
que seja muito importante – volto ao assunto. Sei muito bem o que quer dizer “depois
falo contigo”...
ROGÉRIO CAMARGO
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