“O tato consiste em
saber até onde se deve ir quando se vai longe demais” (Jean Cocteau). Posto que
pisar no tomate, por razões várias, qualquer um pode, o que resta é o
relacionamento mais lúcido possível com as consequências. Depois de uma
burrada, muito pedido de desculpas – às vezes qualquer pedido de desculpas – é
completamente inócuo e pode que só sirva para agravar os danos, pelo
aborrecimento que causa. A arte de ir adiante é complexa e exige algo que quase
ninguém possui: confiança em que, seja lá qualquer for a circunstância
apresentava, todo mundo sobrevive. A vida é sempre mais forte do que qualquer
das suas configurações. Antes de se formalizar qualquer ambiente, externo ou
interno, havia o ser. Ele não existe porque se manifesta: ele se manifesta
porque existe. Isso nunca está claro, no entanto, em um momento de medo-pânico
diante das consequências de haver “errado”. Seja qual for o tamanho da
tempestade, ela não é definitiva. Tudo passa, porque nada é de ficar. E
enquanto não vai adiante, acompanhando tudo que passa, aquele que se prende
está vivendo uma alucinação. Tato – sensibilidade – é perceber esta alucinação
e dar-lhe o destino correto.
ROGÉRIO CAMARGO
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