“À velhice só lhe dão
solidão”. Joguinho bem interessante de palavras. No mérito da questão, o
tratamento dado aos velhos. O estorvo que eles representam quase sempre está
ligado a duas necessidades: atendimento e companhia. Dá trabalho atender,
quando as dificuldades físicas do atendido exigem tempo, cuidado, até certo conhecimento
técnico. Um entrevado precisa ser limpo, trocado, medicado, etc. Tudo isso
chateia quem se sente preso, até mesmo explorado. As pessoas querem é a
liberdade indispensável para gozar a vida. Trabalho é chatice. O trabalho sem
retorno, então, anônimo, obscuro, é quase uma ofensa.
E também tem a
companhia que, sendo uma pessoa não totalmente vegetalizada, o idoso reivindica.
Também é chato, para grande parte dos que querem “ir adiante”, perder algum
tempo dando ouvidos a assuntos quase sempre banais ou falando a ouvidos quase
sempre distraídos. Ser considerado e tratado como um incômodo, então, passa a
ser mais um dos inúmeros testes que a vida apresenta a todos nós. Olhar para
tudo isso com olhos de compreensão e não ter nem que fazer o movimento de “perdoar”,
por ter visto com clareza o que está acontecendo, é para muito poucos. Assim
como ter de fato aprendido alguma coisa de real e indissolúvel valor também é
para muito poucos. É por este reduzido grupo, no entanto, que tudo vale a pena:
mais dia, menos dia, qualquer um de todos pode fazer parte dele.
ROGÉRIO CAMARGO
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