Algumas Histórias IX - Dos Carnavais (2012)
Nos idos da década de oitenta recordo-me nada remotamente de um carnaval peculiar. Saímos bem cedo e impetuosos do Rio de Janeiro, éramos cinco no carango, um Chevrolet Marajó, véspera de carnaval em meados de fevereiro. Não pegamos transito, pois saímos numa quinta-feira, fomos a uma fazenda em um município de Minas Gerais, lugar calmo, muito verde, cavalos e cachoeira. De lá, na manhã seguinte, já partimos ao sol nascendo com o objetivo em São João Del Rei. Chegando, e como já conhecíamos a cidade, aproveitando que ainda era dia fomos à caça de um teto, de uma estadia. Tudo andava bem até o instante momento: arrendamos uma casa deveras engraçada, não tinha camas, porém quatro quartos, um banheiro e uma privada; era o único sanitário e ficava bem debaixo do chuveiro, com um teto rebaixado que só se entrava agachado. Mas o mais inusitado estava porvir: a dona criava um porco na área dos fundos; das nossas janelas dos quartos tínhamos a bendita visão do grande suíno nutrido que nos olhava como amigos. Saímos na primeira noite para a farra: muitas garrafas e copos foram derramados. Ao voltarmos já na madrugada quase ninguém conseguiu dormir; o porco estava inquieto, com o grunhido estranho, muito grave e abafado que parecia engasgado, ou poderia estar só dormindo. Todos desceram e foram ver o bichano. Mas o mesmo se escafedeu e o som já havia parado. A dona da casa acordada explicou que o havia vendido bem no início daquela mesma noite. O último a acordar e descer foi eu... não havia mais nada a explicar, o som havia parado e o silêncio invadiu o lugar.
André Anlub®
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