Cria da realidade
Sonhei com calçadas vazias e as ruas pelos carros lotadas,
Estranhos corpos ocos vagando em terras sem fim.
Havia um ar carregado e viscoso, tóxico de tão ruim...
Que entrava como pimenta pelas narinas pré-fabricadas.
O vazio corria ligeiro pelas artérias e veias
Enquanto aranhas trabalhavam multiplicando suas teias.
Aos ratos, museus, escolas, teatros abandonados...
O mundo ressecado ao aguardo do fogo imaculado.
Sonhei com um horizonte invisível,
O sol apenas à serventia da vaidade.
Do homem, a alma nem sequer “a ver navios”...
A lua vive na insônia da inutilidade.
Podres parede e pele descascando
Clamando por uma demão de tinta,
Rios limpos de sorrisos nunca foram descobertos,
Estão cobertos por mágoas em esgotos ao céu aberto.
Sonhei que havia sonhado que tudo não seria sonho
Só ponho minha mão no fogo pelas chuvas de amores
Encaro meus pavores em sopros como uma toda verdade...
Esbarro no trágico fato de tudo ser cria da realidade.
André Anlub
“Bora nessa”
Vou caminhando com total certeza:
No fundo, no fundo, você está em mim.
Não a vejo, entretanto consigo ver o belo,
Os olhos fracos ainda enxergam.
Ouço tal música (aquela nossa)
Os ouvidos estão indo bem;
Mesmo sem você escrever uma só linha,
Como nunca, sinto sua poesia,
Pois ela também é minha...
(admiração eterna).
No fundo, no meio e no raso,
Meu escuro – meu escudo
Meu jardim – meu cenário;
Nos olhos de janela,
Cada casto colorir de aquarela,
No vácuo, no vasto, no espaço,
Em cada música,
Em cada arte que faço
Em, absolutamente,
Todos os meus passos e traços...
Você está em mim.
André Anlub®
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