Conte-me
E as primaveras
Falo, todas elas...
Contam-me cores mil.
E os outonos
Digo, só alguns poucos...
Tingem de laranja as fachadas.
Os verões
Vestem ouro...
Ardendo em sol todas as madrugadas.
Invernos
Nuvens são como espumas do mar
Estações que variam com a chuva...
O sol que ofusca meu olhar
É o mesmo que ilumina meu rumo.
Como dizer em qual delas está você?
André Anlub
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Imponência
De uma forma deveras palpável
A grafia renasce no arcabouço
Vindo de uma sensação mutável
Tornando-se finalizada ante o esboço.
As letras jamais envelhecidas
Amareladas com rigidez perene
Órfãs sem jamais terem nascidas
Lapidadas pela sutileza do cerne.
Apólogo nas mentes funcionais
Decreto soberbo dos irracionais
É boa imprecação em todas as formas.
Sem acatamento diante da alusão
Dona de si perante comunhão
Jamais dará ouvidos às normas.
André Anlub
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A Idéia quer Se Mostrar
Uma idéia na cabeça
Um corpo e otimismo
Não falta mais nada
Para chegar a lugar nenhum.
Tenho que por para fora
Explosão, realismo
Vou somar, multiplicar
Um mais um...
Quem tem põe, quem não tem passa a ter
Tem para mostrar, expõe...
Talvez esconda para ninguém ver
Uma idéia na mão
Tela, poesia, escultura
Não sou Rodin para chegar à perfeição.
Procuro sonhar, ponho para fora, realizar
Só se for agora...
Nunca serei um Van Gogh
Malfati, Bouguereau, Renoir.
Quero trilhar caminhos dos sonhos...
Dos alucinados pela arte...
Do melhor que posso dar.
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“Desabaflorando”
Hoje acordei perturbado, na verdade nem acordei
Nesse sucumbir, perdi a guerra, minha missão
Desarmado, “desamado”, sou um “não”...
Em um poço sem fundo, por dentro da lama, no fogo... Sou rei.
Reinando no ruim, posso tocar o céu
Pronunciar o som do amor, do ódio e da morte
Que tal ser a saliva ácida da besta... Ou até o mel
Da sangria desatada, que faz rios, sou o corte.
Fatos e revoluções habitam minha mente
Minh'alma quer ser livre, ela tenta novamente
Enxergo o que quero, quando e como quero.
Falo devagar, como um ébrio maldito
Faço citações de papiros do Egito
Crio rimas poéticas, jogo fogo em tudo... Sou Nero.
André Anlub
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Cheers
O berro, o bar e a brisa
O copo brusco que vai ao chão e não quebra
Um velho bilhar... E quando fico em sinuca...
É o velho frio na nuca.
O jukebox é disputado
Também o jogo de dardo...
Que tem uma foto amarelada,
do Sarney, toda furada.
Esse bar não abre nem fecha
É flecha sempre lançada
Pois o coração do poeta
Não seca, não se afoga... Não nada!
Absinto é homeopático
Cerveja cria uma grande barriga
O garçom pra lá de simpático...
Sempre serve uma dose extra
Com uma porção de lingüiça.
Temos que chegar diariamente
Com uma pequena prosa
Que fale de espinho ou da rosa
De um culpado ou inocente.
Com ela batemos o ponto
Sairemos só muito tonto
Chamando urubu de meu louro...
Deixando a freguesia contente.
Garçom, um Southern Comfort...
E um copo cheio de gelo
Aproveitando minha falta de zelo
Com meu fígado guerreiro.
Hoje trouxe do meu terreno
Colhi praticamente agora
Gostoso é feito na hora
Deixa o ébrio ameno.
O aipim não é brincadeira...
Tem mais alcunha que o poeta
Alguns conhecem com outro nome
Pode ser mandioca ou macaxeira.
Frito desce redondo
Cozido desce oval
Com uma cachaça de rolha
Entramos em um vendaval.
Hoje trouxe esse conto
Amanhã venho com outro
Vou para uma taberna
Uma prostituta me espera.
André Anlub
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Faz Valer
Porque nem sempre só há dor
em todas as praças, sorrisos,
em muitos lares, união....
De mãos dadas com seus filhos,
preparando, amenamente, nova prole.
Porque nem todos são só prantos,
alegres, tristes ou indecisos,
fazem do amor seu principal tempero...
Capital inicial, sua matéria prima,
espírito imortal.
Porque a poesia faz encanto...
dentro, ou fora, de paredes sólidas,
voando, sem perder as forças...
Pelo infinito mais belo.
André Anlub
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Sair, Saindo
Vou sair por este mar vagabundo
Onde não pode apoiar-se nas paredes
Nem no domingo se deita em uma rede
Só digo gritando que sou dono do mundo.
Olhando o céu sobre minha estrada
Vejo um futuro quase sem mágoa
Uma ablução com a beleza da água
Que bebo e utilizo de estada.
Mas se a imundice visitar-me
E com seu odor e despudor, encruar-me
Terei que refazer minhas malas.
Quem sabe em uma ampla casa eu viva
No horizonte da minha mente ativa
Que são, no dia a dia, minhas salas.
André Anlub
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