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19 de maio de 2012



Algumas Histórias XI

Um homem no Limbo

Em meados dos anos noventa, em um apartamento aconchegado
Cercado de amigos, festas, viagens, idealismos e psicotrópicos
Regado à delicadeza de uma vida branda e deveras desatinada
Dias curtindo praias, fazendo fuligem, ouvindo rock e muito alto
Homem nada abstêmio vivia quase o dia todo dopado.

Por dentro um grito estrídulo
Por fora um corpo beirando o franzino
Tinha quase um milhão de amigos
No mundo dele era um estranho no ninho.

Nessa sua vida na lua não via a vida passando
Tratava mal seus amigos e afetos
Não sentia as amizades se esvaído
E o carrasco da velhice chegando.

Chegando o ano dois mil
Viu a luz no final do seu túnel
Oportunidade de mudar o seu rumo
Abandonar o que sempre foi vil.

Fugiu das grades das celas...
Fantasmas
Procurando as portas certas...
Maturidade.

Não buscando os caminhos mais fáceis...
Parou de pular as janelas.

André Anlub


11 de abril de 2012



O Ser Notívago

Avenidas vazias, mãos e contramãos de molambos
Pelos mausoléus de fantasmas, passam colecionadores de isqueiros inúteis...
Catando lixos, latas e vidas ocas.

Sem pressa, arrastando corrente e levando seu corpo moribundo
Andam se esquivando de nada e balançando ao vento.

Ao som de motores noturnos, a luz dos postes e faróis...
Muitas vezes os remetem a uma vida de festas,
Uma existência regada a drogas que foram trocadas por comida e sexo.

Expectativas são contratempos de eras e momentos que não passam
Das bocas as mais puras conjecturas, dos olhos as bulas de remédios de leituras
Desenfeitam qualquer paisagem, enfeiam o que de pior que há.

Na fantasia de um deles surge um pássaro de bela penugem
O canto... Uma variação de tenor e gênero lírico, sublime delírio
Com o toque de um panorama, o inverno senta na primeira fila.

Não existem sapatos, pisa descalço em uma linda grama verde
Entre seus farrapos e uma velha esteira
Acabou o artefato, passou a loucura...
Chega enfim o "canto" de uma britadeira.

André Anlub

9 de abril de 2012

Meu ponto final

Não ser um cidadão de posses não o torna mais frágil
Talvez alvo de preconceito idiota e um tanto tartufo
E o preconceituoso às vezes alcança sua acidez...
Tartuficando pelas ruas, beirando o irracional e o desrespeito moral.

Sobre ser rico...
Rico na índole, a meu ver, é primordial e gigante
Rico na inteligência é admirável
Rico na demência tem mais que bactéria no ar.
Rico de espírito, metaforicamente falando, ser de aura ofuscante.

O que seria reescrever a história...
O mais importante acontecimento
A descoberta das descobertas
Ser o professor dos mestres
Ou ter uma gorda conta bancária notória?

Ganhar a vida é muito relativo
Seria para alguns viver o máximo de tempo feliz
Para muitos outros não.

Acho que escrevendo essas coisas...
Impondo-me, na escrita, limites...
Cometerei maus-tratos com minha inspiração.

E continuaria lutando mas passando mal
E não vendo as belezas que passam por sob meus olhos.

E o próximo ponto com absoluta certeza...
Seria meu ponto final.

André Anlub

8 de abril de 2012

Somado Ao Mais Do Múltiplo Do Resto (Parte I e II)

Me beijas com todas as forças
Me digas que sou eterno
Nunca me escondas que és moça
Quero viver amor paterno.

Sempre no sossego da calma...
Desnudo de satisfação
Negas a libido que alcança
Filha da disposição.

Tudo somado ao mais do múltiplo do resto
Incesto que nunca ocorreu
És minha por isso confesso...
Embriaguei-me de um sangue teu.


Seco por fora e por dentro...
Molhado pela imaginação
Sorrindo de puro desprezo
Chorando bicas de solidão.

Um ostracismo ímpar
Incontestável peso na consciência
Ciência que nunca será resolvida
Podes chamar Freud e a realeza.

Minhas palavras podem ser falácias
Mas são farmácias para te curar
Não há no ar remédio mais poderoso
Bebido, eleva em demasia tua grandeza.

Nem sempre procurei em ti só beleza
Quero abrigo, anseio, sinceridade
Dispenso a atração carnal
Só atrai mais ansiedade.

Por fim, peço tua sola na minha face
Me cuspas, me batas e arranhes
Que eu apanhe até perder a força
E que meu afeto eu mesmo disfarce.

André Anlub





Inspirado em Neil Gaiman

Ela não apontou o dedo para ele
Mesmo havendo um legítimo motivo.
Diz que quem deseja não ser oprimido
Vai ter que aprender a voar entre nuvens.

Neil Gaiman disse em uma ocasião:
“Às vezes você acorda, às vezes a queda mata você... Às vezes, quando você cai, você voa.”

Ela pergunta qual o seu cartão de visita...
Supondo que a pessoa não tenha imediatamente uma resposta em mente
Ou é excesso de qualidades
Ou a completa falta da mesma.

Ela sussurra que nas duas opções nunca se deve apontar defeitos alheios
Segue jogando suas pétalas ao ar
Que com o vento colorem e realçam o caminho
Nunca, em toda sua vida, seguiu sozinha
Pois sempre deixa esse rastro ao passar.

Ele também quer deixar sua pista
Seguir à risca o manual da boa convivência
Chutará as nádegas da demência
E tentará deixar um bom aroma nas despedidas.

Se foi um sonho,
De alguma forma foi real...
Pois existiu, mesmo que por alguns minutos,
Na história da sua vida.

André Anlub

7 de abril de 2012

Para Sylvia II

Presente muitas vezes em meus sonhos
Com a alcunha de Victória
Sempre longa fábula de final feliz
Quimera de uma escritora que também é atriz.

Passeando em pensamento
Sendo lida ao relento
Denotando em aforismos
O seu mundo em fartas folhas
Na cabeceira do surrealismo.

Segue mãe, imponente e linda
Colosso na exposição dos sentimentos
Por dentro estrutura abalável
Sensibilidade inimaginável.

Os rebentos amparados, longe das asas da mãe
O fim já anunciado pelos martírios de viver
Sua escolha foi infindável branca folha
Jamais entenderão o que seria seu bel-prazer.

Trinta anos são tão parcos
Para uma rainha na imortalidade
Temos que carregar os fracassos
Com a incumbência de pisá-los.

O dito “Efeito Sylvia Plath”...
Que muitos poetas carregam no cerne
Não está pertinente a perder
É somar o muito além do que há.

André Anlub



Imagem: tattoo from the poem "Tulips" by Sylvia Plath - web

6 de abril de 2012

Apenas uma Ponderação (parte III)

Realismo do poder de uma paixão é a mais cruel das realidades
Sonhos que poderão se realizar
Uma família que pode habitar seu legado
Ninguém sabe se será uma possível dor de separação
Paredes brancas para pintar.

Às vezes para enxergar temos que ficar cegos
Um coração que há dúvida se irá quebrar
Cada passo pulando buracos
São as mazelas que perpetuam os egos.

Passam-se anos e esquecemos tudo
Horas que ficamos somente em sonhos
Um passado que passou como puro absurdo
Pode vir, como chuva forte, a se repetir.

Em um mais novo louco amar...
Sinto cheiro de nova vida
Um recomeço com rebentos e novas armas
Nova batalha, sentimento, era
Uma porta pantográfica para usar de saída.

Na beira do abismo encontra-se nova resposta
Se olhar para baixo não vai se arriscar
Sem dinheiro ou bens, mas pode se fazer a aposta
Nova casa no coração é toda quimera.

André Anlub

A história de uma criança que se perdeu dentro de um computador em 1950


Há algum tempo atrás, os editores do TNW colocaram um post na Web que era um agrupamento de experiências de computação. No entanto, uma vez que a mensagem foi para a internet, um dos editores recebeu um e-mail que continha histórias sobre as primeiras interações dos leitores com um computador e também histórias sobre os primeiros computadores do mundo.

Uma das primeiras histórias falava de um homem que se perdeu dentro de um computador.

A história só foi mencionada de passagem durante a primeira correspondência, mas depois o editor foi colocado em contato com o homem em questão, e a história se mostrou hilariante.

Imagine a década de 1950, quando os computadores começaram a ser construídos e leia essa história:
“Em 1950, eu tinha 10 anos, e estava visitando o campus da Universidade Estadual de Michigan. O computador estava no chão, desligado. Era um computador muito grande, quase metade do tamanho de um ginásio. Então, eu entrei no computador e andei para cima e para baixo olhando para os tubos de vácuo até que eu fiquei preso lá dentro. Eu não conseguia ver a porta, e não lembrava o caminho para voltar para fora. Eu estava literalmente "perdido dentro do computador". Então eu continuei andando, e finalmente encontrei a porta de saída.”
Cotidiano

Com idade de ser um homem feito
E com defeito que carregamos no peito
Faço uma rima com carinho e verdade
E não imagino como seria de outro jeito.

E não aceito essa tal desigualdade
Com respeito durmo tranqüilo no meu leito
E acordo às cinco horas com muita vontade
Faço um verso para alegrar o meu dia.

Vou correndo pra bendita labuta
Não vou xingando igual uns filhos da truta
Vou contente sabendo que mesmo tardio
O meu salário aparece no bolso.

O meu esforço jamais é a esmo
Minha índole continua um colosso
Por um momento paro e escrevo
Por um segundo paro e te ouço.

Me dá um abraço e me deseja bom dia
Pego a marmita e encho de novo
Carne moída e um bocado de ovo
Para dar sustância e também energia.

Logo às seis horas largo esse batente
Vou ao dentista arrancar mais um dente
E chego em casa com uma fome danada
Marco presença com minha doce amada.

André Anlub

5 de abril de 2012

“Um sonho que sempre não tive”

Caminhando por um jardim surreal...
Deparei-me com algumas belas plantas epífitas
Sentei-me em um velho banco de madeira
Um rio de prata atravessava o lugar
Longe haviam árvores altas que pareciam tocar o céu.

Estiquei o braço em direção a uma orquídea amarela
Ela estava caída no chão, ainda molhada pelo orvalho
Peguei e a levei até o nariz
Ainda pude sentir a sua fragrância
Era o meu perfume preferido.

Levei-a então bem próximo dos meus olhos
O sol batia e ofuscava douradamente minha vista
Formava uma espécie de arco-íris, singular beleza
Veio-me a visão dos seus cabelos.

Nesse momento meus pensamentos se consumiram
Lembranças que haviam sido arquivadas...
Mesmo assim voltaram como num estalo
Sem piedade.

Por que fui tão rude com ela?
Pensei como seria o presente se no passado agisse diferente
Ponderei as decisões que tomei...
Algumas sensatas, algumas egoístas e muitas precipitadas.

Tentei ajustar o complexo relógio do cérebro
E perguntas vieram com uma tempestade...
Antes mesmo que eu pudesse ficar de joelhos...
E meus prantos se derramassem por sobre mim...
Acordei!

Mas as dúvidas nunca deixaram de ecoar.

André Anlub

2 de abril de 2012

A Casa do Sonho - Uma prosa louca

Uma bela casa... Parece assombrada
Parede violeta... Pode ser roxa
Meio descascada... Mas ainda está nova
Torneiras de prata... De realeza
Um piso beleza... De tábua corrida
O lugar, não sei... Só sei que é bem longe
Também não importa... E não importa mesmo
É de frente ao mar... Sinto a maresia
De fundos para as montanhas... Tem um grande terreno
Eu abro a porta... Morrendo de medo
Começo a andar... Vou andar devagar
Um clima ameno... Sinto um pouco de frio
Tem um segundo andar... Sigo com medo
Com linda sala de jantar... Penso em ficar
Amplo escritório... Lembra meu quarto
Colado a sala de estar... Perco-me no pensar
Bem em frente ao mictório... Acho que vou rezar
Grande corredor... Qual oração?
Um cão labrador... Será que o chamo?
Ou seria uma cadela?... Vou deixar para lá!
Na frente da casa uma árvore... Com um belo balanço
Vejo pela janela... Um ar gelado de doer
Um pé de abacate... Deu-me vontade comer.

Cercando a casa... Um cercado bem novo
Um pequeno pomar... Belo pomar
Colado em um poço... Bem fundo
Com água potável... Algo para tomar
Lá no fundo o sol... É o caminho de volta
Faço um eco em sol... Um ré ou um fá
Lugar admirável... Sei que vou voltar
Um dia hei de morar
Viver com a família
Até desencarnar
Mas agora escreverei para o mundo uma canção
Uma canção que fale de amor
Sem prolixidade
Sem pudor nem dor
Com pitadas de carinho
Desejo, baixinho
Doces beijos, noites ardentes
Puro amor
Beijos melados, noites "calientes"
Vou fantasiar a vida
Torná-la querida
Dizer sim para tudo
"Arriba e arriba"
Fazer uns absurdos
Me permitir a liberdade
Tudo ser a saída
Nem saber minha idade
Não quero mais viver com despedidas
Chega!, vou voltar a realidade.

André Anlub



30 de março de 2012

Algumas Histórias X

Uma vez quis ser algoz a uma pessoa

Mas acabei me tornando essencial para a mesma
Armei um circo para findar o que ela começou
Mas ela era guerreira, e por esse motivo sua força aumentou.

Fiquei com uma ligeira impressão estranha
De que na época o que estava em voga, em mim, era a aversão
Pois ter alguém no seu pé, no auge da juventude, dava uma raiva tamanha
O que seria amor se tornou paixão e logo depois migrou para obsessão.

Como todos sabem que existem pessoas que acordam bem cedo...
Já falando que odeiam em tal hora acordar.
Dormem tarde, agindo no mesmo princípio...
E são ossos do ofício não ter às vezes o que odiar.

Pronto, descobri uma maneira de chegar ao ponto
Comecei outro namoro, um chamego aberto
Ela sabia que eu tinha outra, que era louca, e estava por perto
E a outra logo ficou sabendo das regras desse novo jogo.

Mas de nada adiantou, pois ela aceitou...

É ilusório combater o ódio com a indiferença
A parafilia de querer estar sempre feliz em se maltratar
Sabe-se que ninguém agrada a gregos e troianos...
Mas com o passar dos anos são eles que podem lhe agradar.

André Anlub

E o Mundo Acabou - 2012

Foi banhar-se, só e bem cedo, na sua nova cidade
O ano acabava de começar
Um clarão veio de toda parte
Não havia ninguém, nem vida, por lá.

A escuridão veio, assim, de repente
Um breu jamais visto
Milhões de pensamentos dominavam sua mente
O barulho do silêncio em êxtase misto.

Ventos de todas as regiões tocam o seu corpo
Trazendo um gélido tempero na cachoeira
Pisa em folhas secas na trilha de volta
Sozinha, com frio, sem eira nem beira.

Estranho, pois não havia sons quaisquer
Gatos pardos, cavalos selvagens, nada por ali
Passando por despachos, pipocas e galinhas
Pega uma planta para se distrair.

Erra o caminho e sai em outro rio
O medo se confunde com o frio
Sem arma, coragem, sem orientação
Sem lua, comida, ombro irmão.

Sobe em uma árvore para ver melhor
Sem a companhia de mosquitos ou pirilampos
É como um breakout pintado de preto
Se vê tremendo a alma e o esqueleto.

Chega a um dossel, caindo em prantos
Grita, chama, por um deus qualquer
Apela para todos os santos
Segura firme sua malmequer!

André Anlub

Livro do Mal

Foi a mais bela de todas
Vivia em seu castelo protegida por um dragão
Usava ouro, jóias e vestidos de seda
Ninguém podia lhe tocar a mão.

Era pintora e falava mais de dez idiomas
Sua voz era de um belo tom
Tudo de nada serviu
Pois de casa nunca saiu
Para expor o seu dom!

Passava o dia inteiro cantando e escrevendo em sua redoma
Já havia escrito mais de cem livros
Entre contos, prosas e poesias
Havia um que era exclusivo.

Um livro de poesias sobre a vida
Sobre ser o que nunca virá a ser
Falava sobre viver com várias saídas
Livre arbítrio para beber e comer.

Narrava a vida em Gomorra e Sodoma
Sobre vinhos e depravações
Subtrações que se revolvem em somas
Mostrava quase todas as emoções.

Mas o seu tempo foi passando
A velhice chegou
Sua pele foi enrugando
A demência lhe pegou.

Por fim morreu com seus escritos
Nunca o mostrou.
A verve, por sua vez, pensava perdida
Mas surgiria um mito.

As datas foram ocasião
Os livros que o passado deixou fora
Atualmente em uma escavação
Acharam essa biblioteca de outrora.

O mundo caiu em sobras
Sua escrita alguém publicou
Tal sombra do mal o devorou.

Não tinha asteróides nem cobras
Nem as previsões de sábios
É o puro armageddon de alfarrábios.


Embora seja só uma história
E o livro não tenha o menor dolo
Bebemos o vinho e comemos o bolo.

Tomando cuidado com a verve
Sabendo sempre o que lê
Com atenção no que escreve.

André Anlub

Na Fazenda

Gosto de dias nublados, com cheiro de mirra
De sentir em mim, leve brisa e preguiça
Por tanto apareça e me faça uma surpresa
Venha no próximo trem, você, minha sina

Faço um café e massa de pão
Vou ordenhar algumas vacas e preparar queijo minas
Pegar alguns ovos e fazer omelete
Ponho a mesa e acendo o fogão
Eu sei que vou repetir que você me fascina

Eu busco na minha vida, carinho e perdão
Carinho pela carência e perdão pelo passado
Às vezes eu penso que o amor sempre chega atrasado
Mas vejo a minha idade com o mundo nas mãos

Nas mãos também tenho a faca e o queijo
E cada pedaço que como faz falta o doce do beijo
É o sabor que faltava de uma goiabada
Então espero você chegar minha quimera amada

As rosas e margaridas clamam seu nome
O orvalho começa a cair como uma lágrima divina
Começa uma leve chuva como purpurina
Mas logo as nuvens negras, dissipam e somem
E sua mão abre o portão chamando meu nome.

André Anlub

29 de março de 2012

Foi hoje na madrugada

Querem saber o teu verdadeiro nome
Anseiam que digas seus mais secretos mistérios
Depois irão espalhar aos quatro cantos e ventos
Assim talvez possam beber na tua fonte.

Não que sejas pecadora ao extremo...
Que tenhas confessado teu passado e presente.
Sei que sou afetuoso e inexperiente
Pois meu coração está absolutamente enfermo.

Posso te ouvir gritando por dentro
Sentir o teu ventre ininterruptamente clamar
Queres novamente arriscar um rebento
Sei que tu sabes exatamente o que é amar.

Essa noite eu o vi em um maravilhoso sonho
Abraçado comigo, era belo e delicado
Voávamos por sobre a Ilha de Páscoa
Carregava-me nos braços, batendo as asas.

Tinha o rosto de quando tu eras pequena
Sorriso, feição e fala serena
Vi-me abençoado e regado em satisfação
Criei esse filho em minha imaginação.

André Anlub

28 de março de 2012

Olhos azuis de cegos

Jovem, bonita e mortal
Uma crônica cólica romântica pode até ser fatal
Mas para corações fracos e desprotegidos
Quase todos que há.

Ela deixa o sujeito de quatro, febril e sem norte
Clamando pela morte sob o ataque juvenil
Em um labirinto do fauno, entregue a própria sorte
“A inocência tem um poder que o mal não pode imaginar”.

Quando se alcança uma idade avançada há uma predisposição
Uma espécie de paixão pelas coisas mais novas
A luxúria de cunho sexual e erótico movido pela imaginação
O que foi rima vira verso, o que foi verso torna-se prosa.

O poder da juventude é efêmero e nada discreto
Existe o enorme preconceito pelo ultrapassado ou velho
A pureza do novo, que ante visível, assim não é mais reta
Sinuosa estrada que no final volta ao seu início.

Nas margens do caminho há no limite o precipício
O verdadeiro mergulho na vaidade não tem volta ou arrependimento
Faz uma vida de angústia, um ímpio no hospício...
Que vaga por orifícios das seringas de rejuvenescimento.

Enche com silicone os egos
As amarguras com cimento
Vê-se no espelho por um momento...
Com olhos azuis de cegos.

André Anlub


Imagem: web

Algumas Histórias IX

Dos Carnavais - Prólogo...

Nos idos da década de oitenta...
Recordo-me nada remotamente de um carnaval peculiar
Saímos bem cedo e impetuosos do Rio de Janeiro
Éramos cinco no carango, um Chevrolet marajó
Véspera de carnaval... Meados de fevereiro.

Não pegamos transito, pois saímos numa quinta-feira
Fomos a uma fazenda em um município de Minas Gerais...
Lugar calmo, muito verde, cavalos e cachoeira.

De lá, na manhã seguinte, já partimos ao sol nascendo
O objetivo era São João del Rei
Chegando e como já conhecíamos a cidade...
Aproveitando que ainda era dia
Fomos à caça de um teto, de uma estadia.

Tudo andava bem até o instante momento...

Arrendamos uma casa deveras engraçada
Não tinha camas mas quatro quartos, um banheiro e uma privada
Era o único sanitário e ficava bem debaixo do chuveiro.
Com um teto rebaixado, só se entrava agachado.

Mas o mais inusitado ainda estava porvir
A dona criava um porco na área dos fundos
Das nossas janelas dos quartos, tínhamos a bendita visão
O grande suíno nutrido nos olhava como amigos.

Saímos na primeira noite para a farra
Muitas garrafas e copos foram derramados
Ao voltarmos já na madrugada
Quase ninguém conseguiu dormir.

O porco estava inquieto
Com o grunhido estranho, muito grave e abafado
Parecia que estava engasgado...
Ou podia estar só dormindo.

Todos desceram e foram ver o bichano
Mas o mesmo se escafedeu
A dona da casa acordada explicou que o havia vendido
E o último a acordar e descer foi eu.
Não havia mais nada à explicar...

O som havia parado, o silêncio invadiu o lugar.

André Anlub


Imagem: web

Algumas Histórias VIII

Curitiba e Santa Felicidade

Outro dia bebendo um bom vinho lembrei-me de uma viagem à Curitiba
Na época, em 1989, eu tinha uma tia que morava e congelava naquela cidade
As passagens de avião ainda eram exclusivas pra rico
Mas a juventude me fez encarar um ônibus com facilidade.

Curitiba, cidade limpa, segura e de transporte perfeito
O prefeito na época era mais que um político querido
No chão nem um papel ou palito de sorvete
Mas o frio ainda seria meu principal inimigo.

Cheguei no inverno e se lá fosse o inferno, congelava
De dia eu pedalava pela cidade na Caloi 10 da minha tia
De luva, gorro e três meias no pé
A noite um filme com um bom vinho me esquentava.

Fiquei conhecido nas locadoras da área
E já conhecia uns skatistas no parque Barigui
Todos os filmes do momento eu já havia visto
Naquela época eu queria morar ali.

Antes de voltar para casa fui conhecer Santa Felicidade
Bairro que foi um antigo caminho dos tropeiros paulistas que iam em direção ao sul.
Lugar de boa comida, vinhos de qualidade e visuais ambíguos
Não esquecei de comprar algumas garrafas para presentear os amigos.

No dia da volta, até o momento, tudo era só alegria
Coloquei as garrafas normais bem embrulhadas na mala
Comigo levei uma grande de vinho tinto três litros
Mas que com duas horas de viagem estaria vazia

Ao passar por um buraco o ônibus deu uma pulada
A garrafa no chão deu apenas uma pequena trincada
Esvaziou, em poucos segundos o chão parecia um mar
O vinho se espalhou no lugar
O cheiro dominou o recinto
O motorista resolveu não parar
E eu fingia que estava dormindo.

André Anlub


Imagem: web

27 de março de 2012

Quando iniciei a série “Algumas Histórias”, quis passar um pouco de alguns períodos da minha vida, não que sejam casos/épocas melhores ou piores, são apenas pequenas lembranças.
Poderia escrever um livro com o material de lembranças que tenho até o momento, mas optei por algo mais poético, em forma de prosa poética com pitadas de humor!

André Anlub



Imagem: Tabajaras/morro dos cabritos/Copa - 2002

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.