O longo adeus
tem histórias pra contar que a breve despedida não tem paciência de ouvir.
- Tudo isso
pra mim? – perguntou Zubiléu diante da mesa vazia.
- Sim. Pode se
servir à vontade.
- Puxa, que
generosidade!
E Zubiléu
empanturrou-se de nada e coisa nenhuma com grande satisfação.
- Já está na
hora?
- Pelo meu relógio
já passou da hora.
- Relógio
idiota esse teu...
No distante
ano de Logo Ali, Tumívio Macazzio encontrou uma cabeça. Seus instintos de
estudioso vibraram. Tomou-a na mão direita, braço esticado, e mirando com
profundos olhos de interesse, questionou: És ou não és? Não, não é bem isso. Tentou
de novo: Foste ou não foste? Ainda não satisfez. Outra tentativa: Serás ou não
serás? Não acontecendo nada, Tumívio Macazzio, que encontrou uma cabeça no
distante ano de Logo Ali, deixou pender a sua própria num balcão de bar
enquanto meditava intensamente sobre os males da existência.
- Há muita
coisa que você não entende, Mariquinha!
- E só por
isso eu vou ter que te aguentar entrando e saindo do meu quarto, remexendo em
minhas gavetas, pegando minhas roupas, usando meu perfume?
A lua
companheira estava sempre lá. A lua solitária não sabia da lua companheira. Se
soubesse, não seria solitária. Não, não seria, porque a lua companheira estava
sempre lá.
- Deus falou
comigo esta noite.
- Que bom.
- Só que eu não
me lembro de nada.
- Talvez seja
melhor assim. Vai que ele tenha te dito que não existe?
A conversa era
entre pessoas que detestam rotina. Rotina mata. Rotina é torturante. Rotina não
tem a menor graça. O que faz o Governo que não acaba com a rotina? Etc. Aí
entrou Papaltto na roda e disse que uma das coisas boas na vida dele era a
rotina. Opa, isso é uma novidade. Conta mais, Papaltto!
Era um ator
muito ruim. Mas o papel era o de um ator muito ruim. E o diretor era brilhante,
aproveitou tudo e mais um pouco do ator ruim no papel perfeito para um ator
ruim. O ator ruim ganhou um Oscar. O diretor nunca mais quis vê-lo na vida.
O sono ainda não
tinha abandonado os olhos, que doíam para enxergar através dele. A vida
chamava, no entanto. E mesmo tropeçando no que quase o derrubava, ele foi.
- Não pode ser
tão ruim como você está dizendo! – dizia Alka a Balka.
- Experimenta,
então – respondia Balka a Alka.
- Mas e se
for?
ROGÉRIO CAMARGO
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