Primeira alvorada de inverno
(Madrugada de 21 de junho de 2015)
Um pouco frio, mas tiro de letra. Temperatura caiu bastante; acho que pela noite marcou vinte e um graus, e agora, na madruga, deve estar uns dezessete. Para aqui, no Ceará, já é frio. Estou com os fones de ouvido ouvindo Coda do Led Zeppelin. O silencio “lá fora” está assustador, nem os gatos, os sapos e os grilos pisaram para fora de casa. É, o rock está pesado. Lembro-me de quando comprei esse disco, ainda era LP, “bolachão”; comprei na Modern Sound da Rua Barata Ribeiro em Copacabana. Era freguês da loja, passava quase todos os dias para saber as novidades, pois eu morava há muito tempo bem perto da mesma. Apesar de ser cliente assíduo comprava pouco, pois sobrava tempo, mas faltava grana. Lembro-me de ter escolhido este álbum porque estava “fresquinho”, havia acabado de chegar no Brasil. Comprei e ele fez moradia – ficava direto na vitrola do meu quarto –, se eu ou os amigos fossemos escutar outro disco, colocávamos por cima dele (uma espécie de obsessão púbere insana)... Mas, voltando ao real, ao aqui e agora, ao frio que não é frio: são duas da manhã e nem me arrisco a ligar a televisão (vai que tem um filme bom), prefiro escrever, escrever e escrever... pois o sono forte está chegando, e se eu me arriscar a ler irei dormir e babar no livro. Para mudar de assunto assumo um pequeno problema: cai em um dilema entre dois amigos (estou dividido e mal pago); os dois brigaram, um acusou o outro de uma coisa um pouco grave. Bem, seria fácil resolver: cada um com seus problemas... Mas sou amigos dos dois, sendo que de um deles acho que a amizade ficou mais do meu lado (mas ele ainda me trata muito bem); ele é aquele tipo de pessoa que necessita de bajulação, de que as coisas sejam bem próximas só do seu agrado, mas já havia me acostumado com isso e aceitado os seus defeitos (até porque os meus são bem piores). Por outro lado o outro amigo é mais flexível, mais direto e a amizade sempre foi mais franca. Os dois eu conheço há mais de vinte e cinco anos; os dois são parentes entre si e meus irmãos de coração; os dois me remetem a um passado maravilhoso, com um vínculo, um leque, uma chuva de outras amizades magníficas que vieram juntas e que jamais esquecerei.
André Anlub
Manhã de quase Natal - “bucolicozidade”
(Despedida V e VI)
– On voit la raison pour laquelle aucune Wanes, on parle de mariage - mystères; débuts liés sans fin ou sans, donnant ainsi le nom de la vie.
Veemência ao máximo, mas a corda ruída; troca-se a música erudita por um rock pesado. Na beira do abismo, com o pensamento equivocado, constrói-se o equilíbrio conforme a necessidade... e atravessa-se o vale:
Agora se vê cedros secos e regadores lotados d’água; ave cinza voando ao redor de arco-íris. Foca-se a íris em bocas que com todos falem – palavras inexatas – incoerências em dialéticas.
E retorna-se à corda, não se sossega o facho: acorda os olhos, pois agora é real perigo; nostálgico tempo, vento e desabrigo... pede-se o ofuscamento, pois coragem em andamento... o sangue corre quente e rente à corda balança a mente.
(troca-se o rock alto por Ron Carter e seu contrabaixo)
E acorda-se do sonho, agora voa-se baixo: céu encoberto, nuvens à vera, ventos fortes de leste varrendo a estação; o sol quente que preste, a cachoeira à espera, nos poemas – quimeras; para as feras, oração. (fica Ron Carter e seu contrabaixo).
O sol parou de lascar seu beijo quente no asfalto, fim de tarde em mais um dia; ônibus passa, crianças voltam a brincar de bola, roupas voam nos varais e levam o cheiro do café e pão frescos; pessoas passam com suas sacolas e o bucólico torna-se culminante.
Viajo no espaço por um instante, meu corpo suado – estafado – planeado, quase que quase atravessa o país; o cheiro da minha casa penetra o nariz... fina flor que invento para a comodidade. As pernas hoje pediram longa rua, queriam andar e ver novos caminhos; sons se repetem, as horas ecoam sozinhas e o tempo estaciona e me açoita nas nádegas. Meus olhos buscam novos rostos, tristes ou alegres, mas novos: olhos e rostos. Amanhã tomarei coragem e o café bem quente, irei à luta, sair novamente, quero rua. A perpendicularidade do raciocínio chega a desafiar a gravidade; nem sei a gravidade desse desafio, prefiro distrair minhas ideias, escrever. Amanhã é outro dia, é nova sexta-feira... o tempo vai ter que mexer e me mexer. Foi dada uma pausa no ponteiro dos segundos, é aquela noção de congelamento; senti-me voando num céu de brigadeiro, vendo as formigas da cidade grande. O alerta foi dado ao público, nisso, nessa, nossa, “bola”; o amor pode estar parco e não é desesperança (é realidade). Então façamos assim: mais afeto/abancar coragem, engraxar engrenagens, largar a flecha e o arco, pegar os rumos, pegar os remos e flores, abarcar e embarcar nos amores; e “de quebra”, no majestoso barco.
Tiraram a pausa do ponteiro, acabaram com o imbróglio; vou por meus pés na estrada.
A vida é curta quando é corte; a vida é longa quando é logo.
André Anlub
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