Dueto da tarde (CCII)
Chuva que cai e cai e cai, lavando pés e
cabelos.
Em velocidade extrema, na hora do lanche
enxágua algumas almas horrendas.
Não escolhe, não discrimina, vai
encharcando quando pode enquanto pode.
Não sacode, não estagna, é emotiva e cai
dia sim ou dia não conforme o clima.
Não se importa de marcarem horário antes
ou depois dela. Na verdade, nem sabe o que é “horário”. Para ela, só existe um,
o de chover.
Com os pés limpos e a cabeça raspada
aguardo sua queda embraveada para limpar agora minha aura simplória.
Com a glória do anonimato, amplo sucesso
no recesso de minha obscuridade, vou a ela para que venha a mim.
Água verdadeiramente benta, expurga a
pulga que insiste em morar atrás da minha orelha.
Vai me esperar na esquina, no seco, não
quer se afogar. Depois conversamos. Talvez eu lhe fale na chuva, uma chuva que
cai e cai e cai, lavando pés, cabelos e auras.
Rogério Camargo e André Anlub
(14/7/15)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos pela leitura.