Dueto da tarde (CCIV)
A água salgada do deserto que não conhece outro deserto além da água salgada
Salga as algas imaginárias que no algoritmo desarrumado são apenas algo.
Passa a vida procurando vida enquanto o nome das coisas diz outra coisa,
Passa regando com prosa, indo no vento, escorrendo nos prantos dos deuses e pessoas.
Não vaza no poço, não corre no córrego, não marcha no mar. Amarga carga a desta água do deserto.
É miragem ou real? Não importa quando se agrada aos olhos. Mata de sede ou mata a sede? Nenhum dos dois, não quer a alcunha de assassina.
Assina sua sina com o sal que combina com o sol que tudo seca. Talvez queira ser outra coisa. Não pode ser outra coisa.
Vê suas ideias, projetos e sonhos evaporando junto com seu corpo rumo ao céu.
Sonha chuvas, alagamentos, temporais renovadores, tempestades revolucionárias. Enquanto é vapor.
Agora tudo é possível dentro da sua nova vida, nova visão, mudança – transformação.
Tudo é possível: até continuar eternamente a mesma coisa, porque pode não haver outra coisa.
Vê sua esperança comprimida no comprido dilema da eternidade: quando se é eterno não há dever completamente cumprido.
Nem é isso que ela quer, acha. Ou se perde achando. Ou... mais um suspiro e sonha cair na Amazônia, talvez. Antes que também vire um deserto.
Rogério Camargo e André Anlub
(17/7/15)
Muito me honra fazer parte dessa Academia:
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