A arte e o tempo se vão; algumas vontades e
desenhos na pele ficam.
(Manhã de 7 de junho de 2015)
Trouxeram-me os Anjos alguns rabiscos
nessa madrugada. Eram folhas sem nada, em branco, mas tudo ali continham. Foi o
mundo ao avesso no desapresso das pressas. O pensamento ligeiro deixava nas
nuvens rastros de onde nunca passou enquanto o mar, meu amigo, me aguardava em
uma próxima e breve visita. Os olhos fechados em sonhos iam aquém e além do
tempo presente; pude ver tão claramente um fato nunca consumado. Por onde
estaria um quadro chamado “chupa cabra” que pintei e presenteei uma amiga? Onde
estaria essa amiga? Pois é. As flores belas nos cantos da sala, as velas
queimando e perdendo seu corpo; as flores ainda com cheiro delicioso e as velas
ainda tinham muito a queimar. Um poço de água doce e limpa em formato de
lembrança... Uma água nunca bebida e uma sede que sempre houve. Vejo agora
elegantes elefantes com seus passos gigantes, pesados e lentos... Em um
santuário que faz qualquer santo voar. Versos me rodeiam e anseiam serem pegos
e “usados”. As pedras, cá para baixo – pedras duras e cascalhos – lisas e
pontiagudas – formam dores antigas e novas e, como não poderia deixar de ser,
também fazem parte do cenário. A peça de teatro já – já irá ao ar. Em um abre/fecha
de cortinas, rotineiras rotinas e acasos em novidades... Tudo para alegrar a
alma. Vou pensar sobre o assunto e tirar minhas próprias conclusões
(novamente). Expus o que era para ser exposto, e com gosto. Pus-me o que era
pus e cicatrizou em uma casca mais forte e duradoura. Escrevi somente para
fazer graxa e engraxar o texto... dar brilho. As cachoeiras me chamam (sejam
elas quais forem), as águas me chamam, o sol está no ponto e o céu bate seu
ponto... Ainda mais azul do que nunca. Canhões e soldados sedentos, tempestades
e terremos (querendo), chuva ácida – frio e gelo. O frio perdeu a guerra, mas
ainda não se deu conta disso (ainda bem). Agora dou uma puxada forte no meu
inalador Vick, cheiro de cânfora e mentol... O tempo ficou lento e o som no mínimo,
lamentos enterrados e lamúrias aos ventos... A distância entre o entrosamento e
o ensejo é um breve momento... As cortinas de todas as cores e formas se
fecham... Hoje houve sonho, como sempre há.
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