- Era você no
telefone?
- Era.
- Por que não
me disse que era, quando eu perguntei?
- Queria ver
se você me reconhecia.
- E agora que
eu reconheci, o que acontece?
- Agora eu
ligo de novo. Mas não agora.
Quando o
cachorro de Asquinando começou a miar, ele não se importou. Mas quando seu gato
começou a latir foi demais pra ele. Vendeu os dois para um circo e comprou um
canário. Até agora o canário não mugiu.
A brincadeira
espirituosa disse algumas coisas para a grosseria que ela não gostou. Respondeu
grosseiramente. A brincadeira espirituosa não disse mais nada. Mas continuou se
divertindo.
- Que nome
tinha aquele personagem incrível?
- Nenhum.
- Isso mesmo,
Nenhum. Incrível, né?
O trabalho de
esquecer estava indo muito além, do que Antinaldo esperava. A cada vez que o
dava por findo, uma fisgada na memória o fazia lembrar que não esquecera. Muito
aborrecido. Então Antinaldo resolveu inverter as coisas. Em vez de esquecer,
exigiu-se lembrar de tudo, nos menores detalhes. Aí ficou mais fácil.
- Minha vida
está muito chata!
- E o que você
quer que eu faça, que eu arredonde ela pra você?
- Você
consegue?
Uma brisa muito
sutil, quase um suspiro da aragem, veio de manso e envolveu a pedra. Se a pedra
tivesse percebido, talvez desse àquilo o nome de carinho. Mas a pedra não
percebeu.
- Ela está te
esperando.
- Eu disse pra
ela não me esperar!
- Eu também
disse. Não adiantou. Ela está te esperando.
- Bem, vai
ficar esperando, então.
- Ela sabe. Só
não sei por que. Você sabe?
Zantinho
colecionava santinhos. Imagens de santos da igreja católica. Zantinho não era
católico. Ou religioso. Também não era um descrente ácido ou agressivo.
Zantinho colecionava santinhos, apenas isso. Sua coleção era tamanha que o
papa, quando visitou o país, fez questão de conhecê-la. E trouxe uma caixa
cheia de novas peças para ele. Das quais ele só não tinha duas.
Zícolo não
suporta Zócolo. Se pudesse, Zícolo arrancava os olhos de Zócolo e dava para os
ratos comerem. Se pudesse, Zícolo arrancava as tripas de Zócolo, esganava Zócolo
com elas e pendurava o corpo dele num poste para os urubus bicarem. Mas de toda
vez que fala em paz e amor, Zícolo sempre fala em paz e amor, fraternidade
entre os homens, harmonia universal. E até fala bem. Mas não lhe venham falar
em Zócolo!
Nênia e Vênio
tinham hora certa para brigar. Todos os dias. Os vizinhos até acertavam os relógios
pela pontualidade das discussões. Certo dia de outubro, alguns estranharam:
- O que está
havendo com eles? Por que não começaram ainda?
- É que eles não
se guiam pelo horário de verão.
ROGÉRIO CAMARGO
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