Dueto da tarde (LIII)
É assim que acontece: noite, luzes da
cidade grande, transeuntes, carros e mendigos sossegam,
Pesadelos abrandados pelo álcool,
angústias que recebem tapinhas nas costas, ânsias que deitam pra dormir.
Corpos insanos ao chão, mas é somente
mais uma noite comum, que a lua observa de camarote e às vezes chora em chuvas
silenciosas.
O passeio dos animais escuros e
abstratos é ruidoso e quente como um visco derretido e a boca da desolação tem
dentes cariados até as gengivas.
Visão degradante sem “adiante”, sem fim;
caça aos elefantes, matança atroz atrás de marfim.
Burro atrás da cenoura, cachorro atrás
do rabo. Correr, correr, depois ter a noite assim à disposição da lassidão;
como viver uma falsa comunhão, uma mentira no espelho; como o apavorado sem
medo que oprime a si mesmo.
A lua, com inveja do sol, que pode
queimar tudo, suspira uns ventos prateados e deixa correr o sangue ruim.
Mesmo sentindo-se cúmplice, cumpre a
missão de só ser, e iluminar nas suas fases as faces dos mortos teimosos a
viver.
Rogério Camargo e André Anlub
(2/2/15)
Tá indo bem a dupla... :)
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