ALGUNS MINICONTOS
A Pequena Pergunta
queria muito falar com a Grande Pergunta. Mas a Grande Pergunta só tinha
interesse na Grande Resposta, em mais nada. E a Grande Resposta era demais para
a Pequena Pergunta.
- Olha, eu
acho que você não sabe o que está dizendo.
- E eu acho
que você não sabe o que está ouvindo. Mas isso pode ser coisa de quem não sabe
o que está dizendo.
Lapiva morava
muito longe, Clâmpio estava quase desistindo. Pegar três conduções para chegar
lá e ser mal recebido não podia se chamar de um bom negócio. Mas Lapiva ainda
lhe dava alguns sinais de que talvez, quem sabe. Por causa deles Clâmpio continuava
enfrentando a maratona e, depois dela, a decepção.
- Você acha
que vale a pena? – a voz da sensatez lhe perguntava.
- Talvez, quem
sabe – respondia um exausto e neurastênico Clâmpio.
- Como é que
se joga isso?
- Não sei. Não
faço a menor ideia. Mas já perdi 200 reais em apostas.
- Você acha
que eu sou muito egoísta?
- Só quando
quer tudo pra você.
O anonimato
encaixava muito bem com a vida que Pilitro vivia. Ele estava perfeitamente em
paz com isso. Até o dia em que, bêbado numa festa, fez e disse coisas muito
engraçadas que foram parar na internet. A partir daí reconhecido era na rua, alguns
caçadores de talento apareceram com propostas “irrecusáveis”, Jô Soares e Marília
Gabriela o queriam em seus programas e um vasto etc assim. Pilitro jurou que
nunca mais poria uma gota de álcool na boca.
O sinal de
vida estava muito preocupado: alguma coisa não corria bem. Ainda não era o
colapso, mas alguma coisa não corria bem. Então o sinal de vida tentou ser
apenas o que se esperava dele e deixar que acontecesse o que aconteceria mesmo
sem a sua preocupação. Se alguma coisa continuou não correndo bem o sinal de
vida não ficou sabendo.
O lugar ao sol
não queria se afastar para que saísse da sombra o que não tinha lugar ao sol. Foi
quando o próprio sol usou meia dúzia de nuvens para mostrar algumas verdades
facilmente esquecíveis.
Por que
Marivella não ficou, se gostava tanto do lugar, das pessoas e nada a impedia de
ficar? Por que Marivella foi embora, se não precisava ir embora e ir embora não
era melhor que ficar? Marivella não sabia explicar, mas sabia que se ficasse
teria a explicação.
Carmelina
sentou para esperar a felicidade na terça-feira. Parecia um dia bom para isso.
Estava frio e chovendo. Não havia ninguém em casa. Nem na vizinhança, que há
muito debandara do bairro. Goteiras empoçavam tudo. O gato Laércio morrera.
Parecia um dia ótimo para Carmelina sentar e esperar a felicidade.
- Que fim
levou Magulva, você sabe?
- Magulva?
- É, aquela
galinha que a gente comia quando quisesse.
- Magulva foi
para os Estados Unidos.
- Ah é?
- Formou-se em
medicina.
- Ah é??
- Casou com um
americano rico.
- Ah é???
- Tem dois
filhos. Um engenheiro da NASA e outro embaixador da ONU.
- Ah é????
- É.
- Tem certeza
que é mesmo a Magulva?
- Tenho. Me
correspondo com ela desde que saiu do Brasil. Somos muito amigos.
- Hum... Ah...
E a Tivinha, você sabe que fim levou?
ROGÉRIO CAMARGO
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