Abre os braços
para a vida e dentro deles vê cair toda uma alegria que julgava perdida. Parece
piegas. Mas se você fosse ele, saberia o quanto é verdade.
Pai muito
orgulhoso de seu filho. Filho muito orgulhoso de seu pai. Observador isento
sorrindo muito levemente do que há de ingênuo e do que há de inocente em tanto
orgulho.
- É um jogo de
paciência, nada mais que um jogo de paciência.
- E quem é que
perde, quem se irrita com ele?
- Ele tem
dinheiro?
- Não. Mas tem
uma cara de pau infinita.
- É um ótimo
capital inicial, sem dúvida.
O Para Que
encontrou o Por Isso meio deprimido, caidão, quase a chorar encostado num
poste. Fez um gesto de aproximação, mas no olhar que recebeu de volta viu que
de nada adiantaria. Levou sua pergunta básica mais adiante, então.
Kaspa Milina
era alegre como a brisa tocando o parreiral e fazendo músicas singelas nas
folhas. Era alegre como um cavalo novo solto no campo com liberdade. Era alegre
como um pássaro descobrindo a vida. Então Kaspa Milina descobriu a vida. E
precisou encontrar espaço para mais coisas além da alegria.
- Me alcança
um pouco de fé?
- Só tenho
para mim.
- Poxa, como
você é egoísta!
A delícia
modesta ficou toda satisfeita de poder comemorar seu estado de espírito em
silêncio quase religioso. A delícia arrogante quase bateu nela por isso.
- O que
aconteceu com Arvilina?
- Quem é
Arvilina?
- Você não
conhece Arvilina? Já vi então que algo muito grave aconteceu com ela...
O sucesso
estava fazendo um mal muito grande a Kovutto. Mas Kovutto não via isso. Kovutto
não podia ver isso porque estava totalmente dedicado a fazer sucesso.
- Se é ela
mesmo eu não sei - dizia Capolígio, com
um sorriso que ia do leste ao oeste. – Mas seria ótimo que continuasse sendo, mesmo
que não seja.
Alguma coisa
estava dando muito certo para Capolígio. Podia até ser a coisa errada, mas
estava dando muito certo.
Proclávio
deixou um abraço para Morvina. O abraço que Proclávio deixou para Morvina caiu
na terra fértil do jardim, germinou, cresceu como uma frondosa árvore - que
Morvina chamou de Proclávio e à sombra da qual recebe o amigo de toda vez que
ela vem abraçá-la.
- Olha só,
amor, que bonitinho.
- O que é
isso?
- Não sei. Mas
não é bonitinho?
- E o que você
vai fazer com isso?
- Ainda não
sei. Por enquanto só sei que é bonitinho. Não é?
Juntou a
estrela caída com tanto cuidado que ouviu dela: Não estou enferma, só estou
caída...
Mespalínio
refugiava-se em historinhas. Historinhas que Mespalínio criava para recriar
situações ruins e nelas sair-se bem. Porque nas reais ele não confiava em si
mesmo. Sempre se via como um fracassado. Em suas invenções, era um vencedor.
Ali ninguém podia com ele. A não ser quando inventava uma historinha em que
também se dava mal. Nesses momentos ele não tinha para onde ir e até a
realidade seria preferível.
ROGÉRIO CAMARGO
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