- Faz assim, ó:
esquece que eu existo, tá?
- Como é que
eu vou esquecer que você existe se você não sai da minha cabeça?
- Então sai da
tua cabeça, vai dar uma volta, faz um tour pela Europa. Aí dá tempo de eu sair
de lá também.
- Eu queria
que você viesse comigo ver o tamanho da minha tristeza.
- Mas isso não
é programa!
- Exatamente.
Isso não é programa.
Os olhos da
montanha passeando pelas mãos da montanha, que se estendem até os cabelos da
montanha e passeiam junto.
Ninguém queria
saber de Vantomino Brigga. O bom é que Vantomino Brigga também não queria saber
de ninguém e então essa troca de silêncios fazia bem a todo mundo.
O pequeno soldado
encontrou o grande soldado em franco desânimo, já nem limpava seu fuzil, já nem
lustrava seus coturnos. O pequeno soldado esforçou-se para animar o grande
soldado, que lhe devolveu olhares apagados como um resto de fogueira. Mas quando
o pequeno soldado pôs-se a cantar hinos de guerra com sua voz esganiçada, o
grande soldado aplicou nele o que sabia de artes marciais.
- Eu gosto de
Bertilina. Se ela não gosta, diz logo que não gosta. E você?
- Eu o que?
Gosto de Bertilina ou digo logo que não gosto?
Geremundo
olhava fixamente um ponto no horizonte que não estava no horizonte. Geremundo
tinha dessas coisas. Ou essas coisas tinham Geremundo. Porque quando ele olhava
um ponto no horizonte que não estava no horizonte parecia que era nela que o
ponto tinha vindo parar.
O até daqui a
pouco ficou olhando o até nunca mais afastar-se em passos duros, como quem não
volta mesmo. O até daqui a pouco não acredita em despedidas definitivas. Nem quando
as despedidas definitivas são as únicas.
- Quem te
disse que foi Borlão que fez esta tremenda sujeira?
- O próprio
Borlão.
- E por que
Borlão mentiria desse jeito?
- Ou é mais
uma tremenda sujeira ou é exatamente o contrário.
O sol saiu da
sombra para beijar-lhe o rosto com tanta delicadeza que parecia a sombra
beijando.
- Você já viu
como ele faz questão de ser antipático?
- Não, não vi.
- Não
acredito! É impossível que você não tenha visto!
- Bem, o que
eu estou vendo é que você faz questão que eu veja...
- Ela é
completamente louca!
- Por que?
- Você não vê?
Enfeita a casa toda pro Natal em julho!
- E parece que
fica bastante feliz fazendo isso...
Vem aqui,
deixa sua marca e vai embora com a sensação de que a marca não só ficou como
vai germinar, florescer, enraizar e na próxima vez que vier aqui encontrará uma
casa sua literalmente, não uma casa sua metaforicamente.
ROGÉRIO CAMARGO
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