Terra do sempre
Fiz meu pomar florido, vendo e prevendo seu rosto risonho;
Olha-me com carinho e ironia, e a cada novo dia renovo a compaixão.
Pinto e canto o desejo em bons e breves lampejos de sonho...
Jogo mil sementes distintas; vario vadio nas músicas e guaches;
Há de se tornar verdadeiro; há de me diferenciar dos fantoches...
É terra do sempre, terra do nunca; é terra do seu céu e do meu chão.
Verdadeira falácia
Se o portão for aberto – é certo – não mais se verá a paisagem;
Foi-se essa esfera, o limbo é o que sobra – à vontade!
Libertinagens, concupiscências, castas e cartas marcadas;
Tudo em vão, falsa mão, o blefe era um flerte com as mágoas...
Sobrou a esperança nos olhos castanhos da criança desarmada;
Faltou a empatia, noite e dia, na vida abrupta do adulto de verdade.
Sonhos de sempre
Sonhos de madeira, de ouro ou de aço,
Arco-íris envergado como um bambu.
Enigmas de nuvens – aves no vasto azul,
São momentos que se atrelam em compasso.
Sonhos de tempos precisos e elusivos...
Loucos, parcos, vastos, vistos e incisivos.
Fazendo curvas no reto, na aresta do espaço,
Vou voando feliz sobre o vil penhasco.
No mar bem calmo e bem claro – canto;
Em um barco a vela e ao vento – amo.
Fujo ao meu modo do medo – passado;
Abraço o coração de um ser raro – encanto.
Corro salvo e solto na frenética inércia,
Me meto em uma selva sem mato fechado;
Sinto a saliva da chuva no corpo molhado,
Chãos de grama, de vácuo, de tapete Persa.
Pensando dormindo, sorrindo acordado,
Desenho sonhos verdadeiros e irreais;
Ponho de cor a cor no presente e no passado
E realço o sol no futuro de equidade e paz.
André Anlub
-----------------------------------------------
Caso à parte
Sou um curso à parte,
Não sou do tipo que faz faculdade (só a da existência)
E não curte interior de cidade.
Se caso ouvirem o contrário
E comprovarem me vendo na cidade,
É porque mais uma vez
Quis mergulhar em alguma pérfida verdade (minha essência).
Sou um ocaso à parte
O crepúsculo já dormindo no espocado escuro,
Mal explicado, bem humorado, mal e bem desmascarado,
Que prega na conquista pessoal absurda
O que se pisa e prega na sola do pé desnudo.
Sou uma casa à parte
Que abriga a mim mesmo de um jeito farto;
Que dá vivacidade ao meu mundo pesado.
Nos abismos por ande transito devagar,
Fazendo da vida meu doce fardo,
Vou-me levando os planetas nas costas
E em breve estaremos todos de volta ao lar.
Sou um cara à parte
Que parte em busca de sonhos e pesadelos,
Sabendo que a vida também é um mar de rosas:
Violetas, Lírios, Iris, Orquídeas...
Que por fim no alto mar de céu azul e tempestades
Os tubarões famintos da ganancia as devoram.
André Anlub
----------------------------------
No tempo certeiro
Hoje meu céu amanheceu encarquilhado
Com tons bucólicos e forma cactácea;
Dentro de um escarcéu de folguedo afundado
Circo pegando fogo; chama em círculo de encruzilhada.
A breve paixão derreteu ao calor da ideia
Escorreu pelo meio-fio; se escondeu na própria sujeira.
De asneira em asneira minha juventude torna-se velha;
De vela em vela rezo a oração de uma vida inteira.
Posso e passo, verso e frente, sou veemente crente;
Logo veio-me um pensamento peremptório:
Eu, engravatado e indiferente, esgaravatava o dente...
Tudo diante e dentro da minha breve memória.
Já fui esnobe, indiferente sem nunca pisar em ovos,
Sacudindo pouco minha alma diante dos belos corpos.
Certa noite caiu mais doce, e meu coração foi usurpado...
Sem culpa ou culpado, sou no amor paciente e derrotado.
André Anlub
---------------------------------
Néctar eterno
Vem à vista um conjunto de bons absurdos
Da conjuntura que compõe o mundo;
No salutar suga e cospe da seiva
Há o próprio/impróprio que permeia.
Vem também docemente o claro/escuro bem-vindo,
Surgindo para os que arriscam e petiscam essa luta.
Nuvens nuas e magras; pássaro e porco num garbo dia gordo.
Absorto, o corpo nada abstruso; advinda, interioridade florindo.
Absoluta absolvição; entrega total e insana – abalo estratégico;
À cama a chama, ao chão o ser são e ao céu o que é seu e é só.
À morte, alérgico – à vida, estratégico – à alma, lisérgico;
Há fome e sede de continuar nesse fluxo – do pó ao pó.
Vai toda a aluvião alusiva das línguas vis indispostas,
Antes postas em pedestais; antes replicadoras bestiais.
Ficam as línguas festivas, vestidas de salivas amorosas,
Esputando poesias e rosas, volvendo deleites imortais.
André Anlub